Recentemente foi cobrada a adesão de Rondônia à política nacional de educação do campo, um movimento que reflete algo mais profundo do que simples cumprimento de normas. Trata-se de garantir direitos, valorizar identidades e assegurar que estudantes do campo acessem uma escola que entenda seus ritmos, culturas e desafios. Essa política não é apenas uma diretriz, ela simboliza um compromisso com equidade, inclusão e justiça educacional.
Para que Rondônia avance nessa direção é fundamental fortalecer a articulação entre governo estadual, prefeituras, sociedade civil e comunidades rurais. A política nacional de educação do campo prevê cooperação federativa, mas sua implementação depende de vontade política local, orçamento adequado e planejamento participativo. Quando se consegue isso, escolas do campo deixam de ser meramente adaptadas às exigências urbanas para tornarem-se espaços realmente sintonizados com o contexto rural.
Outro ponto essencial é garantir infraestrutura compatível com a realidade do campo. Transporte escolar adequado, condições físicas das escolas (salas, laboratórios, bibliotecas) e conectividade são elementos que muitas vezes estão ausentes e comprometem seriamente o aprendizado. Sem essas bases, qualquer plano permanece no papel, com pouco efetivo impacto nas vidas de estudantes que já enfrentam dificuldades adicionais por morar longe de centros urbanos.
A formação de professores aparece como eixo estratégico. Professores que atuam em áreas rurais devem receber capacitação que considere as especificidades: práticas pedagógicas contextualizadas, pedagogia da alternância, conteúdos que reflitam conhecimentos locais. Investir nessa formação é investir em qualidade de ensino, pois permite que o docente reconheça e incorpore saberes da comunidade, tornando o aprendizado mais significativo para quem vive no campo.
A participação da comunidade rural nesse processo não pode ser subestimada. Pais, agricultores, lideranças tradicionais têm contribuições valiosas sobre práticas culturais, saberes ecológicos, modos de vida, necessidades específicas. Quando essas vozes são incluídas na construção de projetos pedagógicos e nos conselhos escolares, a política deixa de ser algo imposto externamente e torna-se parte da realidade vivida, o que aumenta adesão, permanência e resultados positivos.
Outra dimensão que merece atenção é a adequação do currículo e da jornada escolar aos calendários agrícolas ou das estações do campo. Crianças e jovens do meio rural muitas vezes vivenciam períodos de trabalho ou responsabilidades familiares ligados à produção agrícola. Ajustar datas de avaliações, períodos de estudo ou pausas obrigatórias pode evitar abandono escolar e melhorar rendimento. É uma medida simples, mas de impacto profundo quando bem planejada.
Recursos financeiros são um pilar que precisa estar assegurado. Sem repasse suficiente para manutenção de escolas, aquisição de materiais, implementação de laboratórios, contratação de pessoal especializado e manutenção da estrutura física e de transporte nada avança de fato. O Estado deve destinar orçamento específico para atender as exigências dessa política, além de buscar apoio federal e parcerias quando necessário.
Por fim, monitoramento e avaliação contínuos são cruciais. Medir indicadores como taxa de aprovação, evasão, participação comunitária, aprendizagem real com métricas alinhadas à realidade rural permite identificar o que está funcionando e o que precisa de ajustes. Transparência e divulgação desses dados também fortalecem confiança no processo e permitem que toda a sociedade acompanhe o progresso. Dessa forma Rondônia poderá não só aderir oficialmente à política nacional de educação do campo como transformá-la em realidade concreta para milhares de alunos.
Autor: Anton Gusev